Cap. 2 - Um pedido de desculpas nunca vem sozinho

03/10/2011 17:41

Cap. 2 - Um pedido de desculpas nunca vem sozinho

 

Passei o resto do meu dia perfeito me escondendo de tudo e de todos.

 O melhor momento do meu dia foi quando eu finalmente consegui dormir... Foi difícil, já que conversinhas como “Hermione na detenção? Mentira...” se faziam presentes no dormitório.

 O que ele havia feito? No que ele me tocou tanto? Um selinho? Haha, Hermione, você não é tão infantil assim. Seria algo surpreendente se eu gostasse dele de verdade (bem, quando se trata do Malfoy nem precisa se gostar de verdade) e se eu tivesse cinco anos. Mas eu não tenho mais cinco anos, não sou mais criança, não encaro os mesmos problemas, então não tenho motivos para achar isso algo demais.

 Acordei no dia seguinte sem nenhum pressentimento, e me senti tão bem por isso... Sem expectativas, sem desilusões, sem nada. A pior desilusão que você pode sofrer é a em que apenas você está envolvida, porque você espera algo de você, você sabe seus limites e capacidades, mas mesmo assim espera algo inesperável, e foi isso que aconteceu ontem... Sofri a desilusão de um dia que eu imaginei, apenas eu, e não posso culpar ninguém, nem mesmo... Malfoy.

 Eu não estava me agüentando. Aquela culpa era demais. Eu não agüentava gritar com alguém e não fazer nada... Eu sempre gritava com Rony, mas às vezes eu pedia desculpa e eu não brigava sozinha. Com o Malfoy só eu gritei, só eu xinguei, mas... Bem, Malfoy tinha feito isso por seis anos seguidos e... Não, Hermione, o que é isso? Eu não posso me igualar ao nível dele... Eu terei que pedir desculpas... Quanto mais cedo melhor...

 -Hoje... Depois de todas as aulas... Hoje é sexta mesmo... Tudo bem, tenho que me preparar para isso, se bem que deve ser fácil – Me peguei falando comigo mesma.

 O problema era que... Não ia ser nada fácil! Eu nunca tive que pedir desculpas para alguém desse jeito, até porque eu nunca me senti tão culpada e com tanta vontade de me desculpar... Para piorar a pessoa é minha inimiga. O que aconteceu comigo? Cadê meu orgulho? Meu melhor amigo, meu apoio?

 -Hermione... Bem, você está bem? Você parece um pouco... Pálida.

 -Ahn? – Me deparei com um par de olhos verdes e um monte de fiozinhos ruivos – Ah, Gina... É, sim, eu estou bem. Eu só estava pensando.

 -No que exatamente? Estava pensando em como vai ser a detenção hoje?

 -Não, Gina, eu nunca pego detenção e... – A Gina estava louca? Detenção? Eu? Quem está louca aqui é... Uuuh, sou eu a louca, já tinha me esquecido da detenção -  Ah, não! A detenção... É verdade, com o Malfoy! Obrigada, Merlim!

 -Ah, não deve ser tão ruim assim... – “Ah, não deve ser tão ruim assim” isso é porque não é ela que vai ficar na detenção a semana inteira com o Malfoy! E eu tenho certeza que ele vai querer me encher o saco sobre coisas sobre como eu fui grossa e bla bla bla... – Ah! Vamos logo! A aula já vai começar.

 -Ah, mas eu nem tomei caféééé...!!! – Gina havia me puxado antes mesmo de eu terminar de falar.

A aula foi chata... Isso é estranho para mim, mas talvez tenha sido chata devido ao fato de eu ficar olhando para o relógio esperando a hora passar, mas parecia impossível, parecia que era peso demais para o ponteiro do relógio levar, não importa os motivos, a hora não passava.

 Quando o último sinal bateu, eu fui correndo para o Salão Comunal, mas fui parada no meio do caminho por Harry.

 -Hermione, o que aconteceu? Você está bem? Mal falou comigo hoje...

 -Sim, é, Harry, no momento eu estou um pouco ocupada. Eu preciso ir... Fazer uma... é, bem... coisa.

 -Você ta estranha, Mione. – Ele falou me encarando, então eu decidi que seria melhor eu disfarçar melhor e o encarei também, ficando cara a cara com ele, próximos demais – Ah... – Ele pareceu encabulado e discretamente deu um passo para trás – Eu queria saber sobre o baile... Se você não gostaria de... – Ah não! Eu sabia onde isso ia parar, então inventei uma desculpa... Eu diria que é a desculpa mais idiota que criei na vida.

 -Meu Deus, verdade! Que bom que você me lembrou... Ufa, obrigada Harry!

 -Então você aceita?

 -Acredite Harry, se eu tivesse escolha, não aceitaria. – Ele parecia totalmente confuso e triste... Merlim! Como eu sou uma pessoa horrível – Aliás, quem iria escolher ir para a detenção? Com o Malfoy ainda? Pff, esse mundo estaria perdido – Fui me distanciando lentamente dele.

 -Hermione, eu estava falando de baile e você vem me falar de detenção? Nós estamos na mesma conversa?

 -Harry, esse papo de amizade agora não, ok? Eu realmente estou atrasada. Para... É, bem, ir naquele lugar, naquela hora pra poder fazer aquela coisa.

 -Antes do jantar? – Ele perguntou desconfiado dando um passo para frente.

 -É. – Passo para trás – Bem, eu tenho que ir agora fazer aquela coisinha chamada... Banho! É, banho! Ficar limpinha e cheirosinha pra comer a comida dos elfinhos bonitinhos, orelhudinhos, narigudinhos e todos esses ‘inhos’ fofos da vida. – Ok, alguém me explique como e quando a conversa chegou nesse ponto de eu citar os “inhos”.

 -Hermione eu realmente preciso...

 -AAAAH! Psiu! Fica pra depois, ok? – Dei um beijo em sua bochecha e saí correndo para a direita.

 -O Salão Comunal é do outro lado! – Ele gritou meio abobado e eu juro que vi ele com a mão em cima de onde eu o beijei.

 -Exatamente! Eu só estava te testando e me aquecendo! – Gritei indo para a outra direção.

 

 Cheguei ao Salão Comunal ofegante, minhas pernas doíam de tanto correr. Eu fui lá fazer “aquela coisa chamada banho” (de onde eu tirei isso? Até parece que eu sou uma mulher das cavernas que tá aprendendo um novo vocabulário). Saí correndo para o jantar. Eu não podia chegar atrasada e chamar a atenção dele.

 Eu teria que falar com ele na detenção. A culpa parecia pesar em cada fio de cabelo meu (que não eram poucos não), me corroendo por dentro e por fora.

 Cheguei ao salão para comer. Se querem saber, eu comi igual uma porca de tão rápido que coloquei a comida na minha boca. Tirando esse fato nojento, meu jantar foi normal. Ás vezes eu arriscava e dava uma olhada para a mesa da Sonserina. A Nojenta Parkinson reparou isso em uma das minhas olhadas, e fez seu papel de vadia muito bem. Agarrou o Draco de repente. Não chegaram a se beijar, mas chegaram bem perto disso.

 Oh, meu Merlim! Será que... Será que... SERÁ QUE ELE CONTOU PARA ALGUÉM?! Tomara que não, imagina que vergonhoso que seria. Ok, ok, Hermione, mantenha a compostura. Aaaaah, não, por que eu estou andando até a mesa das serpentes asquerosas? Meus pés não me obedeciam mais, parece que eles tinham tomado vida e decidiram me envergonham mais. Todos me encaravam naquela mesa. Na verdade, todos no salão me encaravam. Qual seria minha desculpa dessa vez? Falar que eu tinha andado para a mesa deles no meio do jantar para fazer aquela coisa chamada banho não pegaria muito bem. Meu tempo estava acabando, o que eu iria dizer para aquelas cobras asquero...

 -Granger, o que você pensa que está fazendo aqui? – Uma voz nojenta, fina e levemente (há, levemente é boa) aputeada... Não podia ser o Malfoy. Ufa, ainda bem que era só a Nojenta Parkinson. Pansy Parkinson para os demais, nojenta Parkinson para as intimas inimigas.

 -E-eu... – “É Granger, o que você está fazendo aqui mesmo?” minha consciência me perguntava. Bem, Consciência, é uma longa história e, vendo daqui, é até engraçada e... hahaha, aiii, tão engraçada que eu acho que vou te cont... “Eu não quero saber, na verdade, eu já sei a história, eu estava lá, se lembra? Mas eu não estava presente para você fazer a burrada que você está fazendo agora. E responda á essa Nojenta Parkinson” isso aí Consciência, chame ela do jeitinho que eu te ensine... “Ah! Quer saber?! Você não quis minha ajuda para vir até aqui, agora eu vou embora ta? Me conta a história depois...” Não, Consciência! Fica aqui! “Vou te contar viu... Eu saio pra tomar um cafezinho e a menina já faz essa burrada... tsc tsc tsc...” Consciência?... Silêncio. Ótimo! Estou sozinha agora, nem minha consciência quer mais me ajudar.

 -Granger, você vai me falar o que está fazendo aqui, ou vai continuar com essa cara idiota olhando pro nada fazendo gestos sozinha? – Ela finalmente soltou do Malfoy, todos olhavam para mim menos ele. Ele evitava olhar para mim e começou a comer.

 -É que eu deixei meu garfo cair. – Ok, Consciência, você vai embora e o melhor que eu consigo dizer é que meu garfo caiu. Tipo, e daí? Eu to pensando que vou te demitir, viu. “Eu ouvi isso” Bom mesmo, talvez você comece a ser mais competente e pare de faltar no serviço.

 -E eu com isso, Granger?

 -E você nada, Parkinson, a mesa não é sua, se você não gosta da minha presença aqui então o problema não é meu. Eu precisava de um garfo, e estava em falta na minha mesa. Você quis saber a resposta, ótima, ouça a resposta... – Saí andando para a porta, mas um pouco antes falei – vadia... – Eu ouvi alguém batendo com raiva na mesa.

 -Eu ouvi isso, Granger. – Fui me virando lentamente.

 -Que bom, agora todos sabem o que você é.

 -Unf – Ela bufou – Aqui está seu garfo! – E jogou um garfo na minha direção... Eu não desviei muito bem, acabou acertando meu braço, mas já que eu não estava tão perto assim, nem machucou.

 -Chega, meninas! – Ouvi Minerva gritando – Srta. Parkinson, sente-se, Srta. Granger, vá para o seu lugar.

 -Não precisa, eu já estava de saída... – Falei olhando uma última vez para todo o salão e pude ver os olhares curiosos, o olhar confuso de Harry, mas nenhum olhar de Malfoy.

 Talvez seja assim mesmo, talvez ele não se importe comigo... “Mas ele não te xingou nem te humilhou lá dentro”, aaah, olha quem decidiu aparecer. “É minha culpa se você decide fazer decisões importantes quando eu estou no meu horário de almoço” Unf, desde quando consciência come? Ta evitando a anorexia, é?... Enfim, te ignorando totalmente, será que ontem foi só algo do momento? Mas... Eu sempre fui uma sangue-ruim pra ele, uma menina nojenta, e o Malfoy sempre fora um menino mimado e raivoso, preconceituoso com raiva de mim por eu ser uma sangue-ruim. “Isso é quem ele é, não se iluda.”... De que lado você está? Eu vou descobrir as respostas hoje.

 O tempo passava devagar. Devagar demais. Eu não agüentava. Eu imaginava se ele estava pensando sobre ontem e por que... Ei! Por que eu estou pensando nisso? Vá pensar na guerra, na Gina, no Rony, nos seus pais, no Harry... Ah, Harry... O que está acontecendo com você? Que história é essa de baile, de se aproximar de mim? Ás vezes eu queria ter nascido... Sei lá, eu podia ter nascido sendo um basilísco. Isolada da sociedade, ninguém poderia olhar para mim...

 Sete horas finalmente. Eu saí correndo para as masmorras para cumprir minha tortuosa detenção com o Malfoy. Eu ia pedir desculpa e seria só isso. Nada de conversas, agarramento, nada. Apenas desculpas.

 Quando cheguei lá, Malfoy e Snape já estavam dentro da sala, só me esperando.

 -Desculpe, Professor Snape.

 -Chegue na hora da próxima vez... Bem, ignorando esse ocorrido – Ele falou friamente me encarando – Vocês terão que arrumar as provas por sala, nota, e nome... Depois terão que arrumar os meus relatórios... Bem, é isso, eu volto às dez. E me dêem as varinhas – E pegou nossas varinhas.

 -Ahn, perdoe-me, Professor Snape... Você vai sair da sala... ? Eu quero dizer... E nós?

 -Quem está na detenção são vocês senhorita Granger, eu não fiz nada errado – Ah, não, imagina que nunca fez nada errado. Eu podia fazer uma lista de coisas que ele fez de errado, só para começar, para ficar no topo mesmo, seria “se tornar professor”. Nossa, isso superou tudo que é errado do mundo – Eu não preciso ficar aqui, perdendo 3 preciosas horas da minha vida por causa de vocês. – Deu muita vontade de perguntar por que ele virou professor então, mas me segurei e ele saiu da sala.

 -Vai sentar ou vai ficar olhando para a porta, Granger? - Granger? Granger? Como assim “Granger”?

  -Eu já ia me sentar...

 Nós ficamos num silêncio constrangedor, Malfoy respirava pesadamente. Finalmente decidi falar com ele.

 -Malfoy...

 -O que foi, Granger? – Ele não se virou para mim a princípio, mas depois me encarou de um modo intimidador.

 -Eu queria pedir descul... Descu... – A palavra não saía – Me perdo... Eu sinto mui... – O que aconteceu com a história de só pedir desculpa e depois acabar com o assunto? Eu vi que aquilo ia demorar.

 -Ok, já entendi que você quer pedir desculpas, mas me diga por que. – Sem sangue-ruim, nem nojenta, nem nada... As coisas estavam um pouquinho melhor do que eu pensava.

 -Ontem... Eu não fui muito legal e... Apesar de você ser quem você é, bem, nada justifica meu comportamento.

 -Tudo bem, mas eu quero ouvir você pedindo desculpas de verdade, quero ouvir você falando “me desculpa, Draco”.

 -Tudo bem, é... A parte do ‘me desculpa’ eu entendi, agora, o que é que esse ‘Draco’ faz no meio da frase? – Cala a boca, Hermione...

 -Granger, eu já estou aceitando suas desculpas – Ele falava como se fosse óbvio.

 -Não, deixe-me entender isso: eu tenho que entrar nas intimidades, ficar te chamando pelo primeiro nome, me humilhando como se louquinha por você, te chamando de Draco como se isso fosse mudar alguma coisa... É isso que você pedindo pra eu fazer? – CALA A BOCA, HERMIONE!!!!!

 -Isso mesmo, e pedir desculpas também.

 -E só eu tenho que fazer parte disso? Você fica de fora... ? – “HERMIONE, É A SUA CONSCIÊNCIA FALANDO! AGORA VOCÊ PEGOU PESADO! COMO ASSIM, NEM UM CHÁZINHO PÓS-JANTAR EU POSSO IR TOMAR SEM VOCÊ FAZER ALGUMA COISA EXTREMAMENTE ESTÚPIDA? EU MESMA ESTOU PENSANDO EM ME DEMITIR, MAS ANTES DISSO CONVERTA ISSO QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AGORA!! NOS FAÇA UM FAVOR E CALE A SUA BOCA, HERMIONE”

 -Ai, você só complica as coisas... Já que é tão importante pra você, Hermione... Mas depois não vá reclamar das intimidades. – Iiiih, Consciência, já era. “COMO ASSIM ‘JÁ ERA’? VOCÊ DEVE ESTAR TODA ORGULHOSA AGORA POR QUE O DRACO ESTÁ TE CHAMANDO DE HERMIONE AGORA!!! VIU, NÃO ME ESCUTOU! É ISSO QUE DÁ...” – Agora meu pedido de desculpas.

 -Unf. – Bufei. Respirei fundo e joguei tudo de uma vez – Me desculpa, Draco.

 -Sabe... – Ele se posicionou na cadeira de uma maneira extremamente confortável e olhou para o horizonte – Eu acho que se as pessoas pedem desculpas, ou elas realmente querem pedir desculpas, ou elas não querem dizer nada e falam da boca para fora.

 -Eu já pedi desculpas, Malfoy.

 -Tem razão, já pediu mesmo, Hermione... – Ele se virou e começou a aproximar seu rosto do meu – Agora vamos às intimidades... Eu quero acabar o que começamos ontem.

 -Não começamos nada ontem, Malfoy. – Tentei me distanciar aos poucos.

 -Primeira coisa: não chame de Malfoy, você que pediu para eu te chamar de Hermione, então eu quero o mesmo... Segundo: não tente se distanciar porque eu estou percebendo isso... Terceiro: se não começamos nada ontem, então podemos começar algo hoje.

 -Não, por favor... – Eu estava perdendo a noção de tudo. Cadê o meu ódio? Consciência, cadê meu ódio?! “Ah, agora você vem falar comigo... Me perturbe mais uma vez enquanto eu estou no meu horário de comer ou de dormir que eu te falo onde está o seu ódio.” Olha que não foi assim que eu te eduquei...

 -Bem, só porque você pediu com jeitinho eu vou te provocar... Eu te dou 30 segundos para correr. 1, 2, 3....

 -Malfoy, para com essa criancice e vamos acabar a detenção aqui – falei entediada.

 -Se eu fosse você correria agora. 7, 8, 9...

 -Pra onde eu vou correr? Esse lugar é minus...

 -11, 12...

 -Aaah, seu idiota! – E saí correndo – E não vale olhar!

 Vejam bem no ponto que eu cheguei. Eu estou brincando de esconde-esconde com o idiota do Malfoy. Um esconde-esconde um pouquinho erótico se você for analisar. Não... Ele me maltratou por 6 anos, eu não vou mudar as coisas agora.

 -29, 30... – Eu ouvi os passos lentos dele andando pela sala, mas nunca chegavam onde eu estava.

 “Hermione, pare agora! Saia dessa brincadeira e volte para a realidade! O que esse menino quer com você? Você pelo menos sabe? Você conhece ele, não caia em tentação”

 Era como se eu fosse Eva, minha consciência fosse Adão e Malfoy fosse a Árvore Proibida. Agora a questão era se eu iria desobedecer todas as ordens, quebrar as regras para comer a maçã, ou se eu ouviria a minha consciência e deixaria as coisas como já estão.

 -Te encontrei... – Ele parou em minha frente, mas eu não prestava atenção – O que aconteceu? – Ele agachou e ficamos nos encarando, olho no olho.

 -O que aconteceu... Eu que te pergunto. Eu pensei que seu orgulho viesse em primeiro lugar... Junto com o que os outros pensam e as camadas sociais e essas coisas de família e sangue... Porque você ficaria com uma sangue-ruim suja que nem eu?

 -Hermione, eu... – Ele estava envergonhado.

 -Malfoy, eu não quero pedidos de desculpas nem nada do tipo... Eu só quero uma resposta... O que você quer de mim?

 - Você está achando que eu gosto de você? Hermione, não se iluda – ele falou debochado – Um sangue-puro nunca irá gostar de uma sangue-ruim, agora... Atração é outra coisa. – Uma mão dele subiu para a minha cintura e a outra mexia no meu cabelo. – E eu nem posso gostar de você, o que você falou sobre o que vem em primeiro lugar... Você estava certa, e eu nem tenho tempo para amor.

 “Ele só está te usando, não caia em tentação, eu te imploro agora”... Só porque você pediu com jeitinho...

 -Verdade, você não tem tempo para amor, e é o que eu falei, eu nunca vou querer nada com você Malfoy, mas se eu fosse querer algo com alguém como você, eu ficaria com alguém disponível, que queira as mesmas coisas que eu. Você é pior do que eu pensava... Você só pensa em agarramento, e sexo, e beijar, e nessas coisas. – Eu fui me afastando, mas ele se aproximava cada vez mais.

 -Podemos ser amigos com benefícios... – Ele falou safado e sua boca já quase roçava na minha.

 -Nós não somos nem amigos para termos esses benefícios... E nem tente ser meu amigo.

 -Do que você tanto tem medo, hein? De eu te beijar e você se apaixonar? – Ele falou com uma voz tão debochada que me deu vontade de meter o crucio nele, mas eu estava sem varinha, então minhas opções estavam mais limitadas.

 -Há! Eu me apaixonar por você? O que me atrairia, afinal? Seus olhos cinzas, frios como o gelo? Sua bondade para com o próximo, seu respeito aos diferentes? – Falei levemente dramática e apaixonada, mas depois fiquei séria – Ou devia me apaixonar por você porque você trata o amor do mesmo jeito que você trata os sangues-ruins? Sabe, eu já pedi pra você parar de me tratar assim... Como se você me tratasse bem desde o dia em que você me conheceu. Como se nunca tivesse me chamado de sangue-ruim no segundo ano... Eu não digo isso pelo fato de eu me iludir ou me apaixonar, mas pelo fato de isso me irritar, porque se você trata alguém como eu, alguém que você odeia, desse jeito, então eu nem sei como você trata as pessoas... Sei lá, normais. A Nojenta Parkinson já sabe que você está tentando fazer coisas comigo? Não parecia isso quando eu a vi hoje no jantar... Você usa as meninas, finge que ama elas, várias vezes deve odiar, mas as usa mesmo assim, porque elas caem em tentação. Elas acham “oh, o gostosão do Draco Malfoy mudou por causa de mim”... A questão é que você não muda por causa de ninguém, você se importa mais com você do que com os outros, e isso acontece o tempo todo... – Tomei fôlego para continuar falando – Você coloca seu prazer antes do sentimento das pobres meninas, e antes do ódio... Você pode só continuar me odiando e deixar isso na cara? – Eu comecei a levantar, não agüentava mais ficar agachada olhando para ele... Eu nem sei porque eu estava sendo tão legal e compreensiva com ele.

 -Eu não te odeio! – Ele se levantou também e começou a ir para frente. Eu apenas andava para trás, mas uma hora eu bati na estante atrás de mim.

 -Ah, é? Você fala isso pra todas? – Desafiei-o – Ou você usa coisas do tipo “você é única e totalmente especial para mim”... O que você quer comigo, hein?

 -Não é que eu quero algo com você... Eu quero você. – É impressão minha ou eu estava com a mesma reação que as menininhas apaixonadas pelo Malfoy? Talvez fosse raiva... Coração acelerado, o ar que não queria passar pela minha garganta, a dificuldade para respirar, a vontade de chorar por tudo que é belo, mãos suando, boca seca... É, devia ser raiva mesmo.

 -Draco, eu já te disse: não tente nada comigo porque eu não tenho nada para te dar em troca... Nós somos extremistas, ou nos odiamos ou nos amamos e com certeza não é a segunda opção... – Ele se aproximou mais um pouco de mim o que parecia impossível, o ódio tomou conta de mim e minha voz ficou trêmula – Eu. Não. Quero. Nada. Com. Você, Draco.

 -E por que ainda está me chamando de Draco? – O sorriso canalha pareceu se aproximar mais de mim do que era possível, os olhos pareciam se grudar nos meus, então aconteceu.

 Ele me beijou. Parecia que todos os sons tinham sumido, ficamos no silêncio, mas o silêncio gritava a verdade. Gritava tudo que estava escondido, gritava o corpo dele encostado ao meu, nossas bocas unidas como elos, nossas almas entrelaçadas naquele momento, meu ódio junto com os sentimentos dele... Gritava os sentimentos dele em relação a mim. Não era ódio, não era tara, não era nada que eu conhecia... Não podia ser amor, um ser como aquele não era capaz de amar. Mas era algo totalmente desconhecido por mim.

 Eu queria música, um falatório, qualquer coisa. Mas o silêncio era apenas preenchido pelo barulho do nosso beijo. Por que eu estava deixando aquilo acontecer? Por que eu estava deixando o silêncio gritar tudo aquilo que eu não queria ouvir? Era a minha consciência gritando “Eu te avisei”, era o barulho do chão sumindo embaixo dos meus pés, mas porque eu estava me prendendo àquilo? Era como se tudo tivesse desaparecido e ele fosse o último galho do penhasco. Eu estava caindo, mas ele ainda estava lá.

 O beijo começou a ficar apaixonado, ele começou a passar a mão pelo meu rosto, eu passava a mão pelo seu cabelo. Eu sabia o que eu estava pensando, mas o que ele estava pensando?

 “Hermione pare com isso agora! Volte para a realidade nesse momento” Mas essa é a realidade, eu não me lembro de estar sonhando... “Não, Hermione, essa não é a realidade! Vocês simplesmente não são... Não são feitos um para o outro, simplesmente não são. Vocês não foram feitos para ser.” Eu não disse que fomos feitos um para o outro, nem que eu quero que seja assim, mas eu estou falando que essa é a realidade “Não! A realidade é que ele nunca mudaria por uma menina que nem você, vocês estão vivendo uma fantasia e isso tem que acabar agora!” uau, valeu pela parte que me toca... Vai tomar seu cafezinho, vai.

 O beijo finalmente acabou. Tudo voltou ao normal, mas nossas bocas ainda estavam coladas. Malfoy ainda me deu mais um selinho e aquilo não me ajudou na situação. Nossas bocas se separaram leve e lentamente. Eu não sabia que existia tanta delicadeza num ser que nem ele.

 -Eu aceito seu pedido de desculpas... – Ele sussurrou no meu ouvido.

 -O que foi isso, Malfoy? – Murmurei, as palavras mal saíam da minha boca.

 -Algumas meninas dizem que é o caminho para o céu... – Ah, eu quase tinha me esquecido que ele era um canalha – Chame do que quiser.

 -Esqueci que você era tão idiota quanto um político.

 -Um o que? – Ele estava confuso, mas nossa distancia ainda era muito pequena.

 -Esquece... Você ainda não me falou o que você quer comigo.

 -Eu já te falei... Eu não tenho nada em específico com você, você inteira já está de ótimo tamanho.

 -Vai com a Nojenta Parkinson, vai, ela não é linda, maravilhosa, sedutora e tudo aquilo que vocês, meninos, adoram?

 -É, e ela é fácil demais... – Ele falou distraído. Aquilo resultou num tapa na cara dele... Eu não tinha magia no momento, mas eu sabia como dar um tapa dramático num menino – Você é louca?! Num minuto me beija e no outro me bate?

 -Eu podia ter descoberto antes... Por que eu não pensei nisso antes? Você me quer e todas essas coisinhas aí porque você me acha difícil... Seu... Canalha, idiota, patético, imbecil – Cada palavra correspondia a um tapa e a uma lágrima caindo – Por um segundo eu pensei que você não era tão ruim... Um segundo que podia ter feito diferença. Você teve um segundo para provar diferente, e você arruinou tudo... Verdade o que você falou, num minuto nós nos beijamos e no outro eu te bato... Incrível como pequenos segundos fazem diferença, como um momento pode te dar a felicidade da sua vida e outro momento pode arruinar tudo o que você já fez... Aliás, quem beijou quem foi você. Você me beijou... Idiota! E quem vai se apaixonar por alguém aqui no final é você! – Aquilo pareceu mexer com ele, mas ele se limitou em dizer.

 -Hermione, se acalme...

 -Eu não vou me acalmar... Pronto, já teve o que queria... Pode ir... – Eu estava totalmente ofegante naquele momento – Pode ir partir para outra e usar as mesmas desculpas e as mesmas palavras... – Eu estava saindo da sala quando ele gritou.

 -A detenção ainda não acabou – Numa última chance de me fazer voltar.

 -Acabou para mim! – Eu estava atravessando a porta quando me virei e gritei – E não espere um pedido de desculpas vindo de mim!

 E assim fui andando pelos corredores, evitando olhares, tentando evitar qualquer pensamento meu.

 Afinal, o que havia acontecido naquela sala?

 “Hermione, estou tão orgulhosa de você... Você fez tudo direitinho... Viu como as coisas dão certo quando você me escuta, só pra variar?”

 Ah, cala a boca, Consciência. 

 

N/A: Pra quem quiser ler no site da fanfic potterish: https://fanfic.potterish.com/visucap.php?identCap=8816&identFic=41078&tCh=1 :D

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